Receiver Greynolds LR-3000

(Por Marcelo Yared)

Olá pessoal,

Aqui segue mais uma restauração, desta vez de um equipamento de uma empresa conhecida na época pela qualidade de seus produtos, apesar de não ser tão grande. Trata-se do ampliceptor Greynolds LR3000, o terceiro de uma família de quatro aparelhos produzidos pela Lambda Eletrônica, empresa localizada em São Paulo, que foi adquirida pela Bravox e logo após encerrou suas atividades – o LR1000, o LR1400, o LR3000 e o LR4000, este último, com mostrador digital para sintonia em FM e com memória de estações.

Sem título

O LR3000 é idêntico ao LR4000, a menos do mostrador e das funções de memória do último. É uma peça muito bonita, como aliás, todos os equipamentos fabricados pela Lambda Eletrônica. Preferi restaurar o LR3000 exatamente pela sintonia de ponteiro, que acho mais representativa daquela época.

O equipamento é bem completo e muito bonito, tem saída para três pares de caixas, controle de médios, filtros de graves e agudos, atenuador de volume e entrada para dois gravadores  e dois toca-discos, além da entrada auxiliar. A sintonia em FM é muito boa. Dois pedaços de fio simples e consigo captar bem as estações. O equipamento estava bem cuidado, mas com sinais de falta de uso e alguma oxidação. Deoxit nos conectores e chaves, ALPS, e tudo ficou OK.

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Eu adquiri este equipamento relativamente barato no ML, pois ele estava sem a roldana do eixo de sintonia, mas a corda e o ponteiro estavam intactos. Comprei no ML a roldana do PR1800 da Polyvox, que tem a mesmo tamanho de mostrador e ficou bom. Durante o processo a bucha plástica do eixo do knob de sintonia trincou, ressecada, e assim improvisei uma de aço, que revesti com plástico internamente. Não trinca mais, apenas a sntonia ficou um pouco mais pesada, mas nada demais. Acho melhor, inclusive.

Ligado pela primeira vez o equipamento funcionou corretamente, lubrificados os potenciômetros e chaves, tudo certo. Parti então para substituição de todos os capacitores eletrolíticos, sendo que os principais da fonte, apesar de ainda funcionais, já apresentavam vazamento de eletrólito, e aproveitei para trocar todos os “zebrinhas” de poliéster também, visto que vários apresentavam as famigeradas rachaduras em seus terminais… pela foto abaixo dá para perceber a trabalheira… e ainda não eram todos…

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Os capacitores de filtro principais, de 5000uF/50v foram trocados por unidades de 10000uF/50v, EPCOS, mas o valor original estava bem satisfatório. Troquei os retificadores de 2A por unidades de 3A, pois pretendia fazer testes bem pesados com ele e queria um pouco de folga nesses componentes. Duas das lâmpadas do mostrador estavam fracas, foram trocadas e todas foram limpas, pois estavam bem encardidas. Esse aparelho devia estar em algum móvel, em região de praia e com pouco uso, ao que tudo indica.

Os transistores de saída são os robustos MJ15015 da Motorola, em dissipador de calor mais que adequado para o uso residencial, o que demonstra cuidado com essa etapa do projeto, evitando-se o uso do tradicional 2N3055 próximo (ou às vezes um pouco acima) de seu limite máximo garantido de VCEo.

O circuito de amplificação era o tradicional do manual da RCA, da época, em simetria quase complementar, sem alguns refinamentos do que consta no manual, mas funciona a contento, com boa qualidade.

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Passada a etapa de revitalização, chegou a hora de ligar e testar o aparelho. A primeira coisa que faço é verificar a tensão de entrada adequada para os aparelhos que analiso e, neste caso, como em vários outros que presenciei, a tensão de alimentação correta para o equipamento não é a especificada na chave do painel.

São Paulo, normalmente, era o maior mercado para muitas dessas marcas e era mais barato fabricar  transformadores com dois enrolamentos de mesmo fio para colocar em série ou em paralelo, conforme a seleção da chave de tensão, mas isso criava um problema, pois para estados com 127vca isso significaria 254vca se colocado em série, ou seja, a tensão que alimenta o amplificador de potência cairia a aproximadamente 87% de seu valor nominal em redes de 220vca, padrão para as redes mais modernas, como a de Brasília, por exemplo, onde resido.

Se os enrolamentos fossem de 110v, ao contrário, haveria sobretensão teórica de aproximadamente 15% quando alimentado por redes de 127vca, o que poderia ser complicado para a vida útil dos equipamentos. Assim, como o mercado de 127vca era maior, a escolha era a de mais segurança, e menor custo, emho. Todos os testes abaixo descritos foram feitos em 127Vca/60Hz.

Eu pretendia apenas fechar e testar o aparelho, o que achava que seria rápido, e realmente ele se comportou bem, até o teste de máxima potência em 4 ohms de carga.

Neste caso, após alguns segundos, a senoide de teste achatava o pico superior, o que, em audição normal, poderia passar desapercebido, mas inviabilizava os testes estáticos. Parti para resolver isso e confesso que me deu muito trabalho. Aproveitei que estava mexendo nele e troquei diversos resistores por unidades de filme metálico, menos ruidosas, casei os transistores da entrada diferencial, diminuindo a tensão DC na saída e também coloquei um trimpot multivoltas para ajustar com  precisão a corrente de repouso do amplificador.

Para resumir a ópera, o problema veio de fábrica e era decorrente de assimetria de estágios de saída e intermediários, além de valores acima de tolerância desejada e de resistores um pouco restritivos no estágio de proteção contra sobrecargas na saída. Foram quatro noites “malhando” no bicho, mas no final deu tudo certo. Vejam abaixo o problema em um canal não ajustado e comparem com o outro (roxo) já trabalhado:

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Com isso, partimos finalmente para as medições e utilizamos como referência os valores descrito no site Audiorama (http://www.audiorama.com.br/greynolds/#LR-3000), obtivemos:

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Observem que os valores estão muito bons, para a época, com baixa distorção nas faixas normais de audição, e boa resposta. Com um canal em carga consegui mais que 80 watts em 4 ohms, ou seja, em regime musical esse equipamento dá conta facilmente de quatro boas caixas, sem maiores dificuldades. Se a fonte fosse estabilizada, com esses parrudos MJ na saída, esse amplificador entregaria fácil em torno de 100 watts por canal. Também verifiquei os valores de atenuação e reforço do loudness e dos controles de tonalidade, que batem com o informado.

Em síntese, podemos dizer que, na época, esse ampliceptor era um dos mais completos do mercado, com boas características técnica, mais recursos  do que os existentes na maior parte da concorrência e muito boa capacidade de entregar potência para as caixas que estivessem conectadas.

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Enquanto escrevo este texto sintonizo a Antenna1 no LR3000, e a audição está bem agradável, sem distorções, ruídos ou sensação de fadiga.

Como essa rádio está na Internet, pude colocar o computador na entrada auxiliar e equalizar os volumes para comparar os sinais. De cara percebo que a transmissão digital, além do esperado retardo, apresenta menos graves que a em FM, o que é interessante, mas ambas as fontes são muito quando reproduzidas nesse ampliceptor.

E é isso aí.

Abraço a todos,

speaker

8 Comments on Receiver Greynolds LR-3000

  1. Meus parabéns pela sua aquisição e pelo sucesso na sua restauração. Comprei um LR4000 e também está sendo restaurado (muito mais detonado que o seu – tinha um “bom bril” no lugar do fusível. Estou com um problema ainda e me falta equipamento para resolver: um dos canais está mais baixo e, como não tenho um osciloscopio para medir, fico sem referência para fazer uma correção. Você se deparou com esse problema? Fiz a troca de todos os eletrolíticos e tambem do potenciometro de volume, mas agora estou me sentindo limitado nessa situação… Teria alguma dica ou caminho? Um abraço e parabéns novamente.

  2. Prezado Alex, desculpe a demora em responder. Sugiro que você separe o amplificador do pré na chave que tem na traseira (se não me engano o LR4000 tem uma chave) e teste separadamente. A própria chave costuma dar problema. A partir daí você pode ir caminhando para trás até chegar no componente defeituoso. Antes de tudo sugiro lubrificar as chaves (não os potenciômetros), boa parte dos problemas costuma ocorrer com a oxidação delas. Abraço e boa sorte.

    • Caro Marcelo,
      Demorei algum tempo para ver a sua resposta, pois achei que seria avisado pelo email.. Mas vamos lá. Desde já, agradeço o seu retorno.
      Eu “retroquei” um eletrolítico que havia trocado erroneamente (o valor era 4,7uF – confundi e pus um de 47uF.
      Busquei revisar todos os pontos que eu havia feito reparo e, até então, parece estar tudo correto.
      O volume dos dois canais se nivelaram com a correção do capacitor (só pra constar, quase todos os eletrolíticos que troquei, deixei com tensões maiores que os originais). Mas o problema é que, após um tempo ligado, um dos canais volta a ficar mais baixo que o outro – tanto observando os VUs quanto por comparação dos canais).
      Confesso que estou sem idéias do que possa ser… Se houver algumas dicas de caminhos do que possa ser, serão muito bem-vindas!
      Meu e-mail: alex.macieira.79@outlook.com

      • Prezado Alex, aparelhos antigos podem dar esse tipo de problema, que, neste caso, deve ser causado por aquecimento. Qual o tipo de instrumento de medição que você tem? Dependendo do que você tiver, pode ser mais fácil achar. O ideal é ter um gerador de sinais de áudio, um multímetro e um osciloscópio, sendo esse útil muito melhor, mas prescindível neste caso.
        basicamente, seria o seguinte: Espere o amplificador apresentar defeito, injete na entrada auxiliar um sinal de aúdio de, digamos, 400Hz, e vá medindo, da entrada de sinal até a saida, as tensões em mV AC nos caminhos de sinal nos dois canais, no ponto onde essas tensões de sinal ficarem diferentes, estará o seu problema, aí cabe a você analisar localmente o problema. Abraço,

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