Receiver Greynolds LR-1400

(Por Marcelo Yared)

Então, pessoal, hoje mostraremos uma restauração que foi feita em um outro receiver Greynolds, o LR1400. Esse equipamento era o top de linha no início da vida da fábrica (Lambda Eletrônica) e é muito bonito.

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Comprei barato faz uns três anos pois a parte estética estava ruim. Um dos knobs não é original e desde a compra tentei conseguir um, sem sucesso. Não tinha pretensões de fazer grandes reformas, pois apenas queria avaliar um equipamento do fabricante. Depois que surgiu uma boa oportunidade em um LR3000, já analisado, deixei esse LR1400 meio de lado.

Não me preocupei com a parte estética, apenas limpei o que foi possível e recuperei partes do painel traseiro que poderiam criar problemas de conexão ou outros riscos. Na verdade, a menos de alguma falha na serigrafia, se a tampa superior for recuperada, ele ficará muito bem. De qualquer forma, sequer liguei ele antes de reformar; a placa de amplificação aparentava estar muito mexida e com componentes torrados.

Essa versão do LR1400 aparenta ser uma mais recente, com o circuito de amplificação separado fisicamente do circuito de pré tonal. O Sérgio Gallo tem um modelo onde a placa é única, mas, aparentemente, o circuito eletrônico é o mesmo.

Então, após desmontar os painéis e providenciar uma limpeza geral, verifiquei que a placa de amplificação estava realmente muito ruim, com componentes danificados, queimada e com trilhas interrompidas. Assim, após algumas noites de trabalho no CAD, fiz uma nova placa, adaptada para os capacitores menores, com configuração adequada de terra, mas mantendo o posicionamento original dos componentes.

image003Tinha em estoque capacitores Siemens “abobrinhas” de 4700uF/35V, da época, novos, assim, os amarelinhos de 2500uF/35V originais foram substituídos por elementos da época. O resultado pode ser visto na foto abaixo:

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Todos os componentes são novos e fiz três alterações no circuito original, apenas porque estava refazendo a placa:

  • Separei os geradores de corrente do estágio de entrada dos dois canais, que eram compartilhados;
  • Agreguei um diodo para configuração Baxandall no estágio de saída, conforme consta nos manuais da RCA da época; e
  • Coloquei um trimpot para ajustar a corrente de repouso. Originalmente era um resistor fixo.

A propósito, o controle de corrente quiescente desse estágio não é dos melhores; me parece que o dissipador de calor dos transistores de saída foi mal dimensionado, então a engenharia agregou um dissipador adicional em forma de U, interno, mas não realocou os diodos de realimentação térmica, o que resulta em uma resposta lenta às variações de temperatura. Ajustei a corrente quiescente um pouco abaixo do que costumo fazer para compensar isso e o circuito ficou estável termicamente, apesar de não estar em sua configuração ótima, emho.

Em substituição aos RCA3055 originais (que já não estavam mais na placa e não são mais fabricados faz tempo), coloquei TIP3055 de meu estoque, da época. Funcionaram bem e são mais robustos que os originais.

Testados com fonte estabilizada, os amplificadores forneceram as seguintes potências máximas com as tensões nominais do esquemático:

image007Em 8 ohms, 1kHz, os dois canais em carga: 26 watts eficazes (32 watts pelo fabricante)

image009Em 4 ohms, 1kHz, os dois canais em carga: 44 watts eficazes (42 watts pelo fabricante)

Observem que as medidas foram efetuadas com fonte estabilizada. Na medida de DHT à máxima potência os valores obtidos com a fonte do aparelho foram um pouco menores. São valores bons para um receiver da época.

Preparada essa placa, partimos para o recap e lubrificação interna do equipamento, limpeza etc. Estava bem sujo mas as chaves e potenciômetros são de boa qualidade e estavam bons. As fotos abaixo mostram o trabalho, que incluiu recuperar as tomadas CA do painel traseiro, que estavam com a proteção danificada e o suporte dos terminais de antena, que estava quebrado. Placas de fibra de vidro devidamente acabadas resolveram o problema e trouxeram mais robustez e segurança para o conjunto.

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Feito isto, tratou-se de colocar a nova placa no lugar, reconectando a fiação do painel traseiro e a interna, para iniciarem-se os testes no equipamento. A fiação interna da placa de amplificação foi ressoldada e amarrada novamente.

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Após tudo colocado no lugar e energizado o equipamento, várias lâmpadas queimadas foram identificadas. Troquei todas as do dial, mesmo as boas, por lâmpadas de filamento novas. A do ponteiro estava queimada também, e ela só acende quando nas funções de recepção de rádio. Coloquei outra, miniatura também, mas de cor vermelha. Ficou bacana e bem destacada, pois o único indicador de que o receiver está na função de rádio é o acendimento da extremidade do ponteiro de sintonia.

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Terminada a montagem, fiz algumas medidas rápidas no equipamento.

Como descrito antes, a ideia foi só verificar a distorção e SNR, então utilizei um software e um hardware recém-adquiridos para essa função. Os resultados seguem abaixo e são compatíveis com o que está descrito no folheto de propaganda do equipamento. Observem que a medida engloba todos os circuitos do equipamento, desde sua entrada auxiliar. Foi utilizada a ponderação A.

image027DHT a 1W/1Khz/8ohms

image029DHT a 10W/1Khz/8ohms

image031DHT antes do ceifamento 1Khz/8ohms

Os valores mostram que o equipamento tem um projeto bom, considerada a indústria nacional da época. O dissipador interno atende a regime musical e com o acréscimo feito pela fábrica suportou os testes de regime permanente também. Boa relação sinal/ruído e distorção. Como já havia dito aos confrades da Somtrês, a audição do FM neste equipamento ficou muito agradável em meu laboratório. Aliás a sensibilidade de recepção em FM é boa.

Em resumo, na época deve ter sido um equipamento bastante interessante para compor um sistema Hi-Fi em salas de tamanho médio ou mesmo um pouco maiores. Fornecendo 45 Watts contínuos por canal, distribuídos em dois sistemas de caixas de alta eficiência, comuns na época como as LC60 da própria Greynolds, deviam fazer bastante barulho.

Forte abraço!

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8 Comments on Receiver Greynolds LR-1400

  1. Boa noite, possuo um modelo desse, porém sai som na saída de fones de ouvido mesmo selecionando as caixas? Será que tem algum defeito ou é assim mesmo? Acontece isso se selecionar o Main, M+R e REM, não deveria sair som apenas nas caixas?

    • Olá, Ellyan, este equipamento possui as saídas para fones ligadas permanentemente, de forma independente das caixas. Foi projetado assim. É assim mesmo. abraço.

  2. Boa tarde, amigo. Belo trabalho de restauro.
    Tenho um desses comprado zero e todo original. É um bom aparelho.
    Me interessei pela adaptação do trimpot para corrente de repouso…
    Qual o valor do trimpot usado e qual o valor que o amigo colocou para a corrente de repouso?
    Abcs.

    • Prezado José Luiz, o resistor original é de 82 ohms, assim, um trimpot de 150 ohms com o ajuste iniciando em 0 ohms seria o ideal. Coloque um voltímetro na escala de milivolts entre os terminais de um dos resistores de 0,39 ohms de fio ligados aos transistores de saída (T11 ou T12). Não se incomode coma a polaridade. Vá aumentando a resistência devagar até mais ou menos o meio (75 ohms), depois do dissipador estabilizar a temperatura (uns 15 minutos), ajuste devagar a tensão nele para mais ou menos 26mV. Espere mais uns quinze minutos e reajuste se necessário. O volume tem que estar no mínimo e o equipamento desligado das caixas. O importante não é a corrente e sim a tensão nesses resistores. Não precisa ter precisão exacerbada, entre 26mV e 26,5mV estará muito bom. Abraço.

  3. Sou filho de um dos 3 sócios da Lambda, que fabricava os Greynolds. Bacana de mais ver o restauro, ler a matéria e os comentários. Tem algum para venda? Abraço e sucesso!

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