Quaterna Réquiem

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(Por Alfredo Manhães)

O Quaterna Réquiem surgiu no cenário do Rock Progressivo carioca em 1986, numa iniciativa dos irmãos Elisa Wiermann e Cláudio Dantas, ex-integrantes da banda Vitral.

Ao longo de seus 30 anos  de existência, o QR teve como integrantes uma série de músicos talentosos e com estilos próprios, o que enriqueceu o trabalho do grupo e contribuiu significativamente para seu sucesso. Atualmente o QR é formado por Elisa Wierman (teclado), Cláudio Dantas (bateria), José Roberto Crivano (guitarra), Phil Wiermann (guitarra, violão e teclado) e Guilherme Ashton (baixo). Passaram também pela banda os músicos Kleber Vogel, Jorge Mathias, Paulo Teles, Jones Jr, Fabio Fernandez, Marco Lauria e Fred Fontes.

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Em 1990 o QR lançou seu primeiro LP, o “Velha Gravura”, que foi reeditado em 1993, na forma de CD com duas faixas extras. Depois vieram “Quasimodo” (1994), “Quaterna Réquiem Livre” (1999), “À Mão Livre” (2003), “Quaterna Réquiem” (2006) e “O Arquiteto” (2012).

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Cláudio Dantas e Elisa Wiermann, integrantes do QR, gentilmente concederam uma entrevista à SomShow Magazine. Confira!

– Cláudio, o QR foi criado por você e pela Elisa em 1986, quando o grupo Vitral se dissolveu. Como foi a passagem de uma banda para outra no nascimento do QR e por que escolheram esse nome?

Cláudio – Logo após a dissolução do Vitral, conheci o Jones Jr. e formamos o que seria o embrião do QR com mais 2 amigos, mas ainda de forma muito amadora; ninguém era músico profissional, mas nos reuníamos para tocar composições do Jones principalmente.  Boa parte delas estão no primeiro CD do Index, grupo que o Jones formou após sair do QR.

Com a posterior entrada da Elisa que realmente passamos a encarar o QR como uma banda que poderia ter alguma projeção no meio Progressivo e com a formação que gravou o Velha Gravura viramos uma banda de verdade…

O nome Quaterna Réquiem é justamente devido aquela primeira formação de 4 engenheiros que só queriam ter prazer ao nos reunirmos para tocar – é Português e não latim como muitos pensam, significa “Repouso dos Quatro”.

Vale dizer que o grupo Vitral está sendo “reinventado” pelo Eduardo Aguillar (baixista e compositor) e por mim, com convidados importantes no meio Prog carioca.  As músicas da época foram rearranjadas e já estamos em fase final de gravação.

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– Elisa, na trajetória do QR vocês passaram por diversas mudanças na formação original. Como isso influenciou na evolução da banda do ponto de vista das composições?

Elisa – As composições acabam sempre ganhando com a alma de quem as interpreta. É natural, não apenas no aspecto técnico, mas sobretudo na expressividade e personalidade de quem as executa. O somatório das pessoas que ali estão fazem a grande diferença quando a música sai do papel. Cada qual com a sua personalidade e expressão pessoal, imprime seu próprio estilo em cada nota escrita, e nos solos livres sobre base, que existem em várias músicas do QR.

As composições são escritas naturalmente, respeitando cada instrumentação. Mas quem faz a diferença no resultado é o conjunto de personalidades das pessoas que ali estão, a cada formação. A guitarra do Crivano, que está conosco quase o tempo todo de vivência do QR, e naturalmente a bateria do Claudio, criaram uma identidade na proposta artística do grupo.

– Quais as bandas que influenciaram (e influenciam) o trabalho de vocês?

Cláudio – Além da  Música Erudita, ELP, Camel e Banco.

Elisa – Me chamam de barroqueira. Dediquei grande parte de minha vida à música barroca e tento modestamente colocá-la na forma polifônica de escrever.  Sem dúvida todos os mestres do erudito e os grandes do século XX/XXI como Camel, ELP, Genesis, Yes. Cada grupo desses possui uma identidade própria, como Bach, Debussy, Brahms, e tantos outros. Você ouve 3 compassos e reconhece imediatamente. A meu ver, o progressivo é o que há de melhor em produção musical da segunda metade do século XX.

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– Ao longo da existência do QR há algum momento pitoresco (curioso ou divertido), talvez em um show ou na gravação de um álbum, que vocês gostariam de citar?

Cláudio – São muitos anos de estrada e muitas estórias.  Na gravação do Velha Gravura, ficamos “internados” por muitos dias no estúdio Serapis Bey aqui no RJ; o  técnico de som – já falecido – que se tornou um grande amigo da banda não enxergava direito e em um dos miojos de almoço errou o escorredor que eu segurava e verteu toda a água fervendo em minhas mãos.  Gravei algumas músicas com boas queimaduras…

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– Vocês consideram que as tecnologias digitais são hoje um caminho sem volta na produção musical, seja no estúdio ou no palco?

Cláudio – Sim.  Como diz o Neil Peart, baterias e carros antigos são maravilhosos, mas os modernos são melhores…

Tudo o que venha para melhorar a qualidade do produto final é válido.  Na gravação do VG, eram alguns pares de mãos na mesa de mixagem e gritos de ‘agora!’; se errássemos o tempo, tínhamos de começar de novo.  Hoje produzir um trabalho é muito mais acessível e rápido; logicamente não influi em absolutamente nada na qualidade artística.

Elisa – Hahahaha, o grupo se transformou junto com o técnico em um grande polvo, movendo os slides da mesa, para controlar as dinâmicas a cada momento. Saímos cheios de hematomas no calor do momento.

O lamentável  é que hoje em dia temos melhores recursos e piores reprodutores; grava-se com o maior esmero possível para ser ouvido em mini fones conectados em um pen drive…

– Achei na Amazon, para download pago, o último álbum do QR que foi “O Arquiteto”, de 2012. Como vocês veem a distribuição de música pela internet?

Cláudio – Infelizmente pouca gente ainda faz questão do produto físico, que é o que realmente traz algum retorno pro artista.  A venda digital é muito pequena, pois logo que um novo trabalho é lançado já está disponível para download gratuito; em contrapartida, em termos de divulgação, nunca vi melhor.

Elisa – Eu coloquei nossos trabalhos para venda digital, pela ONERpm. A grande maioria das compras é feita em dólar ou euro. Infelizmente aqui não temos a cultura de valorizar o trabalho do músico e compositor. Para se  entender que a própria manutenção do trabalho depende do retorno do trabalho, é complicado. A produção acaba diminuindo, pois a dedicação e investimento acaba ficando em segundo plano, por conta da manutenção de nossas próprias vidas, com os trabalhos que trazem retorno imediato.

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– “O Arquiteto” é um álbum que tem características da música erudita, um traço marcante do QR, mas é também um álbum conceitual, passeando por acordes de música industrial, celta, barroca, eletrônica e nordestina. Como está sendo a repercussão desse trabalho em relação aos anteriores? 

Elisa – Muito bom, felizmente. A variedade estilística foi ditada exatamente pelo conceito de cada obra/arquiteto. Na escrita sempre procurei ser honesta com o tema inspirador. Nunca precisei pensar em algo que lembrasse este ou aquele ídolo progressivo, pois eles fazem parte de nossa cultura, junto com os eruditos.

Este estilo maravilhoso que escolhemos traz a liberdade total que a música permite, tanto na composição quanto na escolha de timbres. É o ápice da liberdade de composição, junto com a música incidental, que permite modelar os elementos estruturais de todas as formas, conciliando com a absoluta liberdade timbrística, acústica e eletrônica. Sem medo de ser feliz.

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– Cláudio, além de ser músico você é artista plástico. Como é essa interação entre a música e a pintura? Há influência de uma arte na outra em seu trabalho? 

Cláudio – São paixões de infância.  É impossível pra mim dissocia-las – é interessante, pois várias vezes meu trabalho pictórico foi considerado ‘progressivo’…

– Como está a agenda de shows do QR para os próximos meses?

Elisa – Temos vários projetos na rua, mas por enquanto nada concreto.  Estamos prontos para tocar sempre.

– Poderiam deixar uma mensagem para os leitores da SomShow Magazine?

Cláudio – Em primeiro lugar, agradecê-lo pela oportunidade de divulgarmos nosso trabalho, e ao Jones Jr. por ter nos colocado em contato. Falando do movimento do Rock Progressivo em geral, acho que ele nunca esteve tão ativo, versátil e sólido.  Procurem conhecer nossas inúmeras  bandas brasileiras; há grandes trabalhos sendo realizados puramente por paixão ao estilo.

Elisa – Só podemos agradecer muito esta gentileza com o nosso trabalho, reforçando o quão importante é para a continuidade desta nossa grande paixão comum.

Encerrando a matéria, fiquem com o recente show do Quaterna Réquiem no SESC de São Paulo. Deixo aqui um agradecimento todo especial à Elisa e ao Cláudio pela entrevista, e também ao amigo e ex-integrante Jones Jr. por ter viabilizado o contato com a banda.

Até a próxima!

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