Pré-Amplificador Tonos IC-4

(Por Marcelo Yared)

Creio que todos se lembram da Tonos, que fabricava amplificadores, prés, misturadores e caixas acústicas. A empresa se propunha a produzir equipamentos de qualidade equivalente aos melhores importados.

Com certeza o mais conhecido equipamento fabricado por eles foi o “mixer” IC-3. O conjunto completo tinha o pré-amplificador IC-4, o “power” ST 200 e as caixas DM10, além do IC-3. Posteriormente a empresa mudou a sua direção e os projetistas originais desses equipamentos saíram dela.

Vejamos então o IC-4:

A unidade que adquiri para reformar tinha acabamento em alumínio escovado, com linhas simples e muito elegantes. Trata-se de um pré sem seleção de sinal de entrada (esta fica por conta, no conjunto, do próprio IC3), com uma entrada de alto nível e duas saídas idem e sinal suficiente para excitar amplificadores de potência, como o Tonos ST 200. Possui controles de tonalidade para graves e agudos, que podem ser desligados, loudness e ganho e sensibilidade dos VUs variáveiws, com atenuação a -10dB, considerado 0dBV como referência. Importante notar a presença de um atenuador comutável para subsônicos com corte em 15Hz. É um pré de muitos recursos, apesar de sua simplicidade.

 

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Os controles são suaves, com a utilização de potenciômetros de ótima qualidade. Após 40 anos só necessitaram de um pouco de spray limpa-contato e estão todos funcionando perfeitamente. A montagem é limpa, com uma placa principal para o pré e duas placas auxiliares, na vertical, para o conjunto de VUs.

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O projeto é bem simples e o gabinete é pequeno, muito bem montado, sobrando espaço no painel frontal de alumínio, que tem dimensões padrão para rack de 19″. Havia uma versão para montagem em mesa, em conjunto com o IC3, bastante elegante e que colocava o misturador e o pré inclinados, facilitando a operação.

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As placas impressas são de fenolite, padrão no Brasil à época, e os componentes de boa qualidade. Enquanto as trilhas de cobre são bem feitas, em alto padrão e devidamente acabadas, o lado dos componentes não apresenta serigrafia alguma, bem como não foi possível localizar nenhum manual de manutenção ou mesmo esquemas elétricos do aparelho. A propósito, muito comum na época eram também as tentativas de se esconder detalhes dos circuitos, de forma a se evitarem cópias não autorizadas, como, nesse caso, a pintura do principal circuito integrado do pré. Infelizmente esqueceram de, ou não puderam, pintar a parte inferior do componente, onde vemos que o mesmo é o bom e velho TL072, integrado duplo com alta impedância de entrada.

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Por sugestão do nosso querido Antônio “Tonhão” Cunha, substituí o TL072 por um NE5532, sabidamente superior em suas características objetivas e refiz algumas medidas.

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Apesar de não ter a mesma impedância de entrada dos TL, neste caso essa diferença não prejudicou o comportamento do circuito e os resultados foram superiores aos obtidos com o TL, com a ressalva de que, sem o aprimoramento do resto do circuito (resistores menos ruidosos, leiaute aprimorado, ajuste nos valores dos componentes etc), a diferença não se mostrou tão significativa, pois o CI é apenas um elemento da cadeia de pré-amplificação, apesar de sua maior importância, neste caso.

Foram substituídos todos os capacitores eletrolíticos, por praxe. Quanto a isso há uma certa confusão acerca do envelhecimento desses componentes. Eletrolíticos de boa qualidade costumam durar muito, especialmente quando submetidos a pequenos sinais, sem grande estresse, e podem ser armazenados por bastante tempo.

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Prés como o IC-4 podem perfeitamente funcionar com seus capacitores originais se ele foi pouco utilizado e/ou o foi em condições normais de uso e ambiente. Eu sempre troco os capacitores, por praxe. Neste caso, mesmo antes da troca não havia nenhum sinal de problema por deterioração dos capacitores, apesar de sua idade. Ao contrário disso, capacitores em circuito de potência, especialmente em uso contínuo, devem ser verificados e trocados regularmente, particularmente se a temperatura de trabalho e as correntes envolvidas são elevadas. É o caso de amplificadores e outros equipamentos do tipo.

As medidas de bancada mostram que o pré é bem projetado, com excelentes características de resposta e distorção. O loudness e os controles de tonalidade atuam corretamente e de acordo com as especificações do painel. Apesar de tais características não serem de difícil obtenção em se tratando de prés amplificadores, fica demonstrado o trabalho correto dos projetistas, que, dentro das possibilidades do mercado nacional à época, produziram um equipamento de alta qualidade, além de muito bonito, emho. Houve uma diferença significativa em algumas medições entre os dois canais, mas mesmo as de características inferiores ainda podem ser qualificadas de excelentes, não prejudicando o desempenho final do equipamento. O VU meter é preciso e estava calibrado com as referências usuais.

Distorção Harmônica Total (THD) 1kHz NE5532 Tones ON

THDa1kHzNE5534TonesON_zps98d8c382

Diafonia (Crosstalk) -10dB Gain 1kHz 3dB VU

Crosstalk-10dBGain1kHz3dBVU_zpsbe280dd3

Distorção por Intermodulação (IMD SMPTE) 0dBGain -10dB VU Tones ON

IMDSMPTE0dBGain-10dBVUToneson_zps4e84104b

Resposta de Frequência – 0dB VU 0dBGain

FRSweep0dBVU0dBGain_zpsdf4d14a3

Como já havia reformado um amplificador Tonos, o ST 200, em alumínio anodizado na cor preta, pedi ao nosso amigo Agnaldo, especialista em recuperação de painéis, que alterasse a cor do aparelho, mantendo a serigrafia no padrão Tonos (em azul).

TonosFrontalFinal_zps678c347a

E é isso. O conjunto IC4 + ST200 reproduz muito bem meus CDs no lab e vai me fazer companhia enquanto reformo um outro ícone da época, o Spectro SQA2100, bem como está na espera a fonte de inspiração do ST 200, um bom e velho SAE 2100, bem “detonado” mas ainda passível de salvação.

Forte abraço!

speaker

9 Comments on Pré-Amplificador Tonos IC-4

  1. Marcelo, que maravilha você ter elaborado uma definição tão perfeita desse equipamento que só nos dá felicidade.
    Meu IC-4 apresentou uma deficiencia num CI e o tecnico que faz sua manutenção disse-me que preciso achar o CI LA3246. Esse CI é o utilizado no IC-4?
    Por favor me responda pois tenho muito amor a esse equipamento.
    Muito grato,
    Euclides.

  2. Prezado Francisco,
    Desculpe a demora em responder, só vi agora, masa com certeza esse integrado não é utilizado no IC-4.

    Abraço,

  3. Excelentes equipamentos, e uma ótima fabrica.
    Galera do bem:
    Ari, Manoel, Paulo (Tigre), Paulo (Gato), João Carlos, Marcos Bomfim, Eu e outros que passaram pelo aquário. (como era chamado a seção de testes)
    Edesio, Neide, Neusa e tantas outras pessoas. (viajei agora, rsrsrs)
    Uma pena que acabou.

      • Faço minhas as palavras do Carlos R.Rangel. A Tonos, (Embrasom), deixou saudade em todos nós que passamos pelo “Aquário”. Estive pessoalmente com o Ary um mês atrás e posso lhe garantir que ele também ficou muito feliz pela sua reportagem, que vem reconhecer a qualidade do que fazíamos 40 anos atrás. Uma pena que o Paulo “Tigre”, (quem desenhou as placas do IC-4) foi para o segundo andar em 2018.

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