(Por Lino Elias de Pina)
Esta saudação latina era usada, pelos sentinelas dos tempos do império romano, para que se questionasse os transeuntes acerca de suas intenções de viagem, numa tentativa de separar os mais perigosos das pessoas comuns que passavam pelo imenso império. Vimos de uma eleição onde o país Brasil nos pergunta a nós todos “quo vadis?” e eu, particularmente, não sei responder.
Toda vez que se elege alguém, em qualquer lugar do mundo, se elege uma filosofia ideológica capaz de permitir, através da empatia programática com o candidato eleito, que se tenha um destino comum, a médio prazo, para o país em que o eleitor vive; esta empatia programática deriva daquilo que o eleitor entende mais adequado a si e ao seu país, a que lhe trará maior bem estar futuro. Cada eleitor faz uma aposta e se o protagonista do programa eleitoral não se lhe corresponde, ou é alijado do poder ou é inabilitado à recondução ao cargo que ocupara. Em teoria, este sistema permite, pacificamente, a alternância contínua de grupos ideológicos, sempre em benefício do que possa trazer melhor bem estar ao cidadão eleitor.
Pois bem, este regime político recebe o nome de democracia e é, em condições normais, conduzido na maior parte dos países do globo, mais ou menos obscurecido por períodos mais centralizadores, desde que os gregos inventaram o sistema há alguns milênios. Porém alguns países e o nosso, infelizmente é um deles, vivem uma visão diferenciada deste sistema, onde o cidadão eleitor, ao invés de votar conscienciosamente com vistas ao bem estar comum e de seu país, por alguma razão, acaba votando com olhos postos apenas em prejudicar uma classe política e social numa estratégia de terra arrasada.
Esta degenerada idéia de democracia é tanto mais comum quanto mais o eleitor vote pensando na sua dentadura, na sua lata de sardinha, no seu financiamento para aquisição de uma moderna TV de 80 polegadas, numa imagem tênue de que ganhará algum presente e que, seu vizinho, seu arquiinimigo com quem mede forças diariamente jamais poderá têlo. Na verdade, com esta situação o eleitor vota pensando mais em impedir que aquele que foi eleito como seu rival possa progredir, pouco importando o destino do país em que vive e, por conseguinte, o seu próprio destino que, todavia, não consegue ver desta forma, pois sua visão é obnubilada pelo canto de sereia que os propagandistas habilmente utilizam para seduzilo a corroborar seus ideais.
O Lua, Luiz Gonzaga, com a parceria de Zé Dantas já cantava em 1953 sobre o eterno problema da miséria nordestina acometida à seca: “Mas doutô uma esmola a um homem qui é são Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
Parece que não aprendemos nada desde então, pois de tanta esmola parece que se viciou o cidadão e, agora, as razões desta ação aqui empregadas são muitas, a suposta eterna exploração a que se acha submetido, a vida inglória e sem nenhuma espécie de motivação que leva, as inúmeras frustrações a que foi submetido, o desejo de se dar bem sem pagar o preço para este bem estar, o sentimento de estar se vingando daquele que foi bem sucedido e que, por falta de explicação mais aceitável ou plausível, deve ter obtido aquilo que tem, através de algum meio ilícito.
E onde é que isto se encaixa no áudio? Pois bem, todos lembram do sumido Geraldo Vandré que cantava para outros manipuladores, noutros tempos: “caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não…. vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”.
O cancioneiro popular numa época de efervescência cultural profunda, com inúmeros pensadores cogitando hipóteses para todos os eventos que pipocavam na América e que rendeu ao mercado musical fortunas explorando esta música e literatura engajadas a uma liberdade almejada, já nos ensinou que urge o tempo e que a quem sabe é imperativo fazer a hora, ao invés de quedarse parado, esperando a derradeira unção. Hoje este mercado não provoca a discussão nem fomenta o questionamento, pois, também ele, se acomodou aos tempos ditos modernos, de individualidade e pequenez.
Em maior ou menor escala o pensamento individual, na mais comezinha vulgaridade vulnera o sistema democrático e, como sempre há de ser, haverá alguém muito interessado em observar esta situação atentamente e dela se aproveitar para que possa, aí sim, apropriarse da coisa comum, para usá-la como se sua fosse. Daí eu lhe pergunto: Quo Vadis fratem? Vai fazer a hora acontecer?
Forte abraço!
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